Um quebrar de silêncio...

A banda entrou em estúdio em finais de Março (2007). "Onde andam e onde está o álbum?"
Para dar algumas respostas terei que arrombar um pouco a privacidade da banda...

Certo dia, em conversa com o fundador do grupo, fiquei esclarecido em que galáxias andam... o relato dos acontecimentos daria para escrever um pequeno livro!...
Sem entrar em pormenores, a perda de José Monteiro levou a uma lenta resolução dos teclados em estúdio e o substituto ia escorregando entre palavras e ausências...
Usando da extrema boa vontade e empenho do produtor dos Boomerang, o trabalho arrancou de novo. O nome deste trabalho não podia ser mais bem escolhido, mantendo uma dose de leituras diversas e no que toca ao som, equilibram-se os diferentes instrumentos neste momento!...

Penso que todos aguardamos um novo concerto, uma vez que soam melhor à medida que o tempo passa! Um pedido de desculpas se os expus demais... aos que esperam: um obrigado!

Entrevista no programa Porto Nativo

Porto Nativo: João, como surgiu a ideia de formar esta banda, que toca um rock progressivo complexo e cantado em português?

João: Tudo passa por fazer um flashback e analisar o que acontece no país. A música de intervenção desvaneceu-se depois da euforia do 25 de Abril. E então, decidimos pegar no cantar de intervenção do Zeca Afonso, Adriano C. de Oliveira e tentar fazer qualquer coisa com impacto, simultaneamente calma, etérea e agressiva (quando tiver de ser). No fundo, será fazer um bom jogo entre as palavras e a música.

Porto Nativo: Como surgiu o nome da banda?

Eurico: O nome não está directamente relacionado… a fonética da palavra era apelativa!

Porto Nativo: Ruben, uma análise do trabalho de estúdio… tenta dar-nos uma data de saída.

Ruben: Fomos para estúdio com os temas preparados para serem gravados. Enquanto estávamos a gravar foram surgindo outras ideias que nos permitiram aprender mais técnicas e novas direcções.

(Em relação à saída do álbum) …não podemos dar datas, mas esperemos que seja o mais rápido possível!

Porto Nativo: Renato como será para ti, o fan de Boomerang?

Renato: Será diversificado, acho que o trabalho é acessível para toda a gente, apesar de ser de intervenção… dá pa toda a gente! Não fazemos música para agradar a este ou aquele, fomos buscar este estilo mais analógico, mais retro… penso que a malta nova também vai gostar!... Vamos ver que isto vai dar!...

Porto Nativo: João, pelo que nós escutamos nas músicas, há um ambiente especial. Onde te refugias para compor estas músicas?

João: Isto passa muito pelo estado de espírito. Cada música nasceu de um determinado estado de espírito. Às vezes pegamos numa guitarra, criamos uma sequência harmónica que se adequa ao estado momentâneo. Quando estamos num concerto, há um recriar de emoções…

Porto Nativo: Pedro, como tem sido a aceitação do público ao som dos Boomerang?

Pedro: Acho que o público tem aderido muito bem, ainda hoje estava tudo cheio. Chegamos ao fim do concerto e todos nos dizem que gostaram muito!

Porto Nativo: Eurico, onde vês o Boomerang em 2008?

Eurico: Há a questão do sonho e questão do que poderá vir a acontecer… um dos nossos objectivos é lançar o álbum e ter uma divulgação justa, para que se possa chegar às pessoas…

Porto Nativo: Como é o clima no palco dos Boomerang?

Ruben: Estamos a curtir! O estar em palco, para mim, é muito pessoal e gratificante! Há um estado de espírito para compor e um que é momentâneo. Um concerto é um concerto e esse nunca mais se vai repetir!

Porto Nativo: Renato, como é que vocês se organizam a nível de ensaios?

Renato: Temos que ter calma… são músicas complexas…dividir por partes… é tudo muito pensado! Dá trabalho, mas está aí o resultado! O pessoal tá a gostar e isso é que é importante!

Porto Nativo: João, a pergunta da praxe… duas referências nacionais!...

João: O melhor trabalho de rock progressivo português… “10 000 anos entre Vénus e Marte” do José Cid. Houve uma outra banda não tão conhecida… Petrus Castrus com o álbum “Mestre”. São álbuns que todos os portugueses deviam conhecer!

Porto Nativo: Foi um prazer estar convosco, alguma mensagem que queiram deixar aos nossos ouvintes?

Eurico: Ouçam música portuguesa! Aquilo que nós tentamos fazer um pouco é encarrilar o comboio que se desencarrilha… Acho que com a força de todos (e dos bons músicos que andam por aí) seja possível encarrilar novamente a música portuguesa!

Resumo de uma entrevista dada

Boomerang… cria o seu primeiro fruto numa altura em que Portugal se contorce com a grande seca dos últimos anos: a seca de valores, de socialismo, cooperativismo, relações duradouras, da partilha… da fraternidade!... numa crescente globalização de desinteligência e consumismo feroz!

…”Mesmo na noite mais escura “ (…) “há sempre alguém que resiste”, “há sempre alguém que diz não!” – Manuel Alegre

Numa antítese completa ao panorama nacional, Boomerang intervém com o seu lirismo sarcástico, como em tempos se fez (no tempo da Ditadura visível). Um descontentamento que leva ao canto, um canto que leva ao grito, um grito que leva ao choro, um choro que leva ao sussurrar… um novo cantar de intervenção?

Em relação ao factor “banda” é interessante que “pare, escute e olhe”: falando de artistas dentro de um determinado padrão de letra e música, parece-me que vivemos em águas verdes… paradas! Reparamos que “artistas de nome próprio” são poucos os que nascem e bandas muito menos… O egoísmo social espelha-se na arte é quase impossível trabalhar em equipa… e os Boomerang são uma grande equipa: não só como banda mas com todos aqueles que trabalham arte pela arte (produtores, designers, etc).

Há uma grande interacção da banda com as outras artes (com tendência para aumentar) partindo da ideia Wagneriana de drama musical. A música deixa de ter aquele papel solitário e passa a interagir com as artes plásticas (na criação de cenários), com a fotografia, pintura e até vídeo, ajudando a mensagem a passar num campo sensorial muito mais alargado!

Ao ouvir os Boomerang reparamos num som muito transparente, vindo de pesquisas intensivas, quase doentias… duma demanda constante ao bom som!

No fundo, depois de tudo mexido, obtemos uma música deliciosamente mágica e calma… onde as palavras têm tempo para irem ao fundo e voltarem, onde a guitarra que ralha também chora… uma música que nos leva bem além do nosso sofá… a lugares bem profundos do nosso inconsciente!...

João A. Francisco